Entenda o Lúpus Eritematoso Sistêmico e Seu Impacto nos Rins – Prevenção, Sintomas e Tratamento
Por Dra. Márcia Avelino, Nefrologista
O Lúpus Eritematoso Sistêmico é uma doença inflamatória crônica de natureza autoimune que pode ocorrer em qualquer pessoa, independentemente de idade ou sexo. Contudo, as mulheres entre 20 e 45 anos são as mais afetadas.
Conforme a Sociedade Brasileira de Reumatologia, até 2022, estimava-se que cerca de 65.000 pessoas no Brasil viviam com esse diagnóstico.
Autoanticorpos e Inflamação
A doença caracteriza-se pela produção de autoanticorpos, influenciada por diversos fatores, como genéticos, ambientais e hormonais, que reagem contra as proteínas do próprio corpo e agridem articulações, pele, órgãos e algumas membranas que revestem os órgãos, causando uma inflamação crônica. Assim, os sintomas podem variar bastante, apresentando alguns característicos, como fadiga, dor nas articulações, manchas na pele devido à maior sensibilidade ao sol, febre e anemia.
Entre os órgãos comumente afetados estão os rins, que podem sofrer uma inflamação nos glomérulos, conhecida como glomerulonefrite ou nefrite, que pode variar de leve a grave, levando as pacientes, se não diagnosticadas precocemente, à perda total da função renal.
Sinais Iniciais e Diagnóstico
Inicialmente, pode não haver sintomas, apenas alterações nos exames de sangue e/ou urina. Nos casos mais graves, podem ocorrer inchaço, hipertensão, urina espumosa e perda rápida da função renal, refletida pelo aumento da creatinina no sangue.
Por isso, é crucial que toda pessoa diagnosticada com lúpus monitore sua função renal, pois cerca de 30% a 50% podem desenvolver nefrite lúpica. Alterações na creatinina, a presença de sangue ou proteína na urina e outras alterações urinárias indicam a necessidade de acompanhamento com um nefrologista. A detecção precoce do lúpus é fundamental para preservar a saúde dos rins.
O diagnóstico é frequentemente realizado pelo reconhecimento médico dos sintomas associados a exames de sangue e urina, tendo o FAN (Fator Antinuclear) em títulos elevados no sangue como um exame de alta sensibilidade. Outros testes, como os anticorpos anti-DNA e anti-Sm, são específicos, mas com menor sensibilidade. A biópsia renal é utilizada para confirmar o diagnóstico e avaliar a atividade e cronicidade da doença, fornecendo informações importantes para decisões sobre o tratamento e prognóstico.
Tratamento e Medicação
O tratamento baseia-se no uso de corticoides, imunossupressores ou imunomoduladores, visando reduzir as agressões aos órgãos e controlar o processo de inflamação aguda para minimizar os danos. A escolha da medicação, sua posologia e doses dependem do grau de acometimento da doença nos rins e da rapidez da progressão para a perda da função renal.
A nefrite lúpica não tratada ou que não responde ao tratamento pode evoluir para insuficiência renal crônica. No entanto, mesmo quando os tratamentos imunossupressores não conseguem mais deter esse processo, o paciente pode recorrer ao tratamento conservador para aproveitar ao máximo o que resta da função renal.
Relatos indicam que cerca de 20% dos pacientes com nefrite lúpica evoluem para insuficiência renal terminal. Cuidados com a dieta e controle rigoroso da pressão arterial são medidas simples que podem retardar a progressão da doença para um estágio em que a diálise se torne imprescindível.
Vale ressaltar que o paciente com lúpus que desenvolve doença renal crônica terminal tem uma expectativa de vida em diálise e após o transplante renal tão boa quanto a de qualquer outro paciente não lúpico e raramente apresenta qualquer atividade da doença, mesmo em outros órgãos, durante a diálise ou após o transplante.